domingo, 13 de agosto de 2017

Crítica Literária #25 - Rio das Flores, de Miguel Sousa Tavares

Razão da escolha
Decidi ler este livro porque estava curioso acerca do estilo de escrita do autor, pois ainda nunca tinha lido nenhuma obra sua. Além disso, a minha mãe e o meu avô, que já tinham lido este livro, disseram-me que tinham gostado dele e acrescentaram ainda que falava da guerra civil espanhola. Portanto, a recomendação deles também influenciou a minha escolha.

Reação às primeiras páginas
Ao contrário do que esperava, este livro não me cativou imediatamente, mas, continuando a ler mais umas páginas, comecei a gostar da história, sentindo-me dentro dela. No início da obra, morre um personagem que eu julguei que ficasse vivo durante todo o livro, mas a sua morte, apesar da dor que causou aos seus familiares mais próximos, foi aceite calmamente, o que, inicialmente, me causou alguma estranheza, mas, com o desenrolar da história, essa estranheza passou-me e acabei quase por esquecer que essa personagem tinha mesmo tido um papel na história, se não fosse relembrado algumas vezes ao longo da obra.

Resumo
A obra começa com a descrição de como era a vida em Valmonte, uma propriedade agrícola de Estremoz, gerida por uma família abastada composta por uma mãe, que, quando era nova, não passava de uma mera rapariga; por um pai, o homem que geria tudo o que era relacionado com a herdade; e pelos dois filhos do casal: Diogo e Pedro.

Com o decorrer da obra, o pai de Diogo e de Pedro morre, enquanto o Estado Novo surgia em Portugal. Nesta altura, percebemos a ideologia dos homens da família Flores: o falecido pai, Manuel Custódio, era um monárquico, mas que gostava de debater política em sua casa com os seus amigos; Pedro tinha ideias mais semelhantes às do seu pai, mas era um apoiante do Estado Novo e não da monarquia; e Diogo era um republicano que desprezava, mas respeitava, ainda que com relutância, os ideais do seu irmão.

Entretanto, Diogo casou-se com uma rapariga cigana, Maria do Amparo, que não o deixa partir de Valmonte, apesar da necessidade de novos horizontes de que Diogo sofria, uma vez que se sentia sufocado em Portugal, devido ao Estado Novo. Por outro lado, Pedro conhece e apaixona-se por Angelina, uma pintora que também se apaixonara por ele, mas que o abandona por sentir que a sua vida profissional não se poderia realizar se continuasse a viver em Portugal.

Diogo e um amigo seu que morava em Lisboa decidiram montar uma empresa do estilo import/export entre Portugal e o Brasil. Contudo, com a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, o sócio que geria os assuntos no Brasil, numa visita à sua terra-natal, fica lá retido por ser judeu. Como sabia que nos tempos que se seguissem seria impossível sair da Alemanha, vendeu a sua parte a Diogo e ao seu amigo para que continuassem a gerir o negócio sem problemas. Porém, surgia outro problema: um dos dois sócios teria de ir para o Brasil para continuar a gerir os assuntos de lá. Diogo, como se sentia sufocado em Portugal, oferece-se para ir, deixando durante algum tempo a sua mulher e os filhos, que tivera entretanto, para trás.

Enquanto Diogo esteve no Brasil, decorria a guerra civil espanhola, na qual Pedro participou ao lado dos nacionalistas, regressando a Portugal ferido devido a um encontro inesperado com um tanque soviético.

No Brasil, Diogo começou a preparar os novos produtos para enviar para a Europa, pois previa que se iria instalar brevemente uma guerra entre vários países. Após alguns meses, Diogo voltou a Portugal, mas, durante o tempo em que esteve em Portugal, continuava a querer voltar para o Brasil, pois lá encontrara outra mulher pela qual se apaixonara.

Além disso, Diogo também precisava de voltar ao Brasil para encontrar uma quinta onde pudesse produzir carne para não estar sujeito a atrasos ou outros inconvenientes com a mercadoria que tencionava exportar para Portugal. No seu regresso ao Brasil, Diogo levou o seu filho porque lhe tinha prometido isso. Nessa altura, ainda não tinha começado a II Guerra Mundial, mas, uns meses antes da data em que previam regressar, esta deflagra, o que os leva a ficar lá durante toda a guerra. Nesse período, Diogo reencontra a mulher por quem se tinha apaixonado e abandona a sua esposa, dizendo-lhe que vendia a sua parte da herdade a Pedro e que testemunharia contra si próprio para que a mulher se pudesse divorciar e ser feliz.

O livro termina com Pedro e Amparo a consumarem um amor que ambos sabiam que existia, mas que nunca o deixaram transparecer por respeito a Diogo.

Aspetos a destacar
Já há algum tempo que eu não lia nenhum romance em que a história central era o romance propriamente dito e, quando terminei de ler a obra, estranhei que o enredo amoroso fosse mais importante que os factos históricos. Por esse motivo, o enredo central é, sem dúvida, um elemento que merece destaque.

Também o estilo de escrita do autor merece destaque devido à sua objetividade, que nos permite compreender claramente os sentimentos de duas personagens completamente diferentes, como é o caso de Pedro e Diogo.

Por fim, a par do enredo, os factos históricos também são algo que merece destaque porque é notável o trabalho do autor em conseguir encaixar um enredo tão complexo num contexto histórico tão importante, conseguindo salientar principalmente a intriga central.

Recomendação
Recomendaria este livro porque penso que é uma boa obra para conhecermos o autor e o seu estilo de escrita. Além disso, penso que este livro deve ser lido por todas as pessoas que gostem de um bom romance, tal como penso que é uma excelente obra para também conhecer um pouco como era a vida desde a instauração do Estado Novo até, aproximadamente, um pouco depois do fim da II Guerra Mundial, salientando-se ainda a Guerra Civil Espanhola e as condições de vida dos judeus na Alemanha nos anos que antecederam a II Grande Guerra.

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